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Oposição conseguiu nesta terça-feira a maioria na comissão especial que examinará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.


A oposição conseguiu nesta terça-feira (08/12) a maioria na comissão especial que examinará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao final de uma tumultuada votação na Câmara dos Deputados.

Uma chapa formada por opositores e por dissidentes de partidos aliados de Dilma obteve 272 votos, enquanto a chapa promovida pelos aliados da presidente reuniu 199 votos.
A comissão terá 39 opositores entre seus 65 integrantes e foi o segundo golpe contra Dilma nesta terça-feira, após seu vice-presidente, Michel Temer, presidente do PMDB, dar sinais de que se distanciará do governo por considerar que a presidente não confia nele e no seu partido.


A comissão especial deverá analisar o pedido de impeachment contra Dilma pelas chamadas "pedaladas fiscais", e sua decisão será levada ao plenário da Câmara, que poderá confirmá-la ou rejeitá-la.

No plenário da Câmara, o processo de impeachment só avançará se obtiver dois terços dos votos (342 deputados).
A decisão do presidente da Câmara dos Deputados e adversário de Dilma, Eduardo Cunha, de recorrer ao voto secreto provocou tumulto e até confrontos entre os deputados, o que incluiu a quebra de urnas.

O plenário da Câmara foi tomado por gritos de "Não vai ter golpe", por parte dos deputados governistas, e de "Fora Dilma", por oposicionistas.
Ao som de "Canta y no llores", um grupo de deputados da oposição colocou uma bandeira do Brasil sobre a mesa da presidência da Câmara, enquanto outros exibiam imagens do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário.

Os deputados pró-governo, essencialmente do Partido dos Trabalhadores (PT) e da extrema esquerda, devem agora apresentar os 26 deputados restantes para completar a comissão especial.
"Este é um péssimo começo para o governo", disse à AFP o especialista em ciência política Rubens Figueiredo, da Universidade de São Paulo.
"Com a visibilidade deste processo, é muito provável que o Congresso atue respondendo ao desejo da sociedade" brasileira de que Dilma parta.

- "Decorativo" -
Dilma já havia sofrido um duro golpe horas antes, com a carta de seu vice-presidente e presidente do PMDB que informava seu descontentamento em meio ao tumultuado processo de impeachment.

Temer enviou uma carta pessoal a Dilma, queixando-se de ter sido tratado como "um vice-presidente decorativo" e que a presidente nunca confiou nele.
A carta não foi comentada pela presidente, mas teve o impacto de uma bomba. Agora, o governo e o Partido dos Trabalhadores devem refazer as contas, quando acreditavam ter os votos suficientes para salvar o mandato.

Temer, um advogado especialista em direito constitucional de 75 anos e que será o sucessor de Dilma em caso de afastamento do cargo, também lançou um argumento que perturba a presidente: que o processo de impeachment promovido por três advogados tem sustentação legal.
A presidente assegura que o impeachment é improcedente e alega ser vítima de "um golpe" após 11 meses de seu segundo mandato, depois de ter sido eleita com 54 milhões de votos.
Dilma afirmou repetidamente nos últimos dias que confiava no apoio de Temer.

- Guerra declarada -
O deputado Silvio Costa, aliado do governo, opinou que a carta era "inoportuna", enquanto o deputado Lucio Vieira Lima, do PMDB de Temer, disse à AFP que "o vice-presidente estava muito irritado com uma série de movimentos do governo, querendo apontá-lo como lobista, conspirador, e a carta coloca tudo em seu lugar".

A carta não demorou a atrair as atenções dos analistas de mercado, num momento em que o Brasil enfrenta sua pior recessão em décadas e que o longo processo de impeachment pode paralisar o país e agravar a situação econômica.

Guilherme Pereira Andre Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos em São Paulo, adverte para "um clima de guerra aberta" entre Dilma e o vice-presidente, o que vai atrasar o desfecho da crise.

Fotos: Divulgação


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